terça-feira, 14 de abril de 2009

Letrar é preciso...

Letrar é preciso...

Todo o nosso viver é permeado pela comunicação: é nela e por ela que nos constituímos como sujeito. O nosso discurso, as nossas escolhas lexicais, a nossa intencionalidade (consciente ou não) é revelada no nosso texto (oral ou escrito). Quanto maior for a nossa competência discursiva, melhor será a interação com o mundo que nos cerca.
O letramento, objetivo maior da disciplina de Língua Portuguesa, consiste em permitir que o aluno aproprie-se de ferramentas de comunicação, para que, conscientemente, sabendo utilizá-las, expresse seu pensamento de forma competente e consiga ler/entender o discurso do outro com toda a sua intencionalidade revelada ou nas entrelinhas.
O letramento não é processo fácil. É preciso desenvolver habilidades e atitudes frente ao discurso. É preciso, não apenas ler o texto, mas ler o mundo da comunicação, multifacetado. É preciso conseguir expressar-se de modo que o interlocutor, além de entender o enunciado, perceba o discurso do locutor com toda a sua plenitude significativa.
Para que isso aconteça, é necessário que o aluno seja um leitor-escritor. Leitor e escritor de vários gêneros textuais ( literário, não-literário, verbal, não-verbal, multimodal). Ao tornar-se íntimo de todas as formas de comunicação em nossa língua (variedades padrão e não-padrão, por exemplo), ele conseguirá empregá-las para quaisquer objetivos: seja convencer, questionar, expor idéias, emocionar... A língua por ser um sistema aberto, possibilita uma enorme variedade de usos.
As aulas de Língua Portuguesa, então, se devem se constituir da recepção e produção dos mais diversos gêneros textuais, presentes em todo o nosso dia-a-dia e de gêneros literários. A oportunização de uma gama diversificada de textos – e o estudo deles – objetiva levar o aluno a perceber que cada texto tem um porquê, um para quê e um como. Ou seja, tem uma função, uma intenção e uma estrutura e por isso é formado de elementos estáveis selecionados dentro da língua. À medida que esse processo é internalizado, a competência linguística vai se efetivando.
É preciso lembrar que todo usuário da língua já tem uma gramática interna, que adquire ao aprender a falar. Não é possível utilizar uma língua sem utilizar a sua gramática. A concepção de ensino das regras que regem a língua portuguesa que se pode abordar é , partindo dessa gramática interna, ou implícita, levar o aluno a refletir sobre as normas da língua padrão, objetivando, não a memorização de conceitos, mas o entendimento e a aplicação dessas normas para desenvolver a própria competência como usuário da língua.
A gramática, portanto não pode ser vista à parte, mas como parte. E uma parte que precisa do ensino, do exercício, mas não como se fosse apenas necessária para responder a estes mesmos exercícios. Ela deve estar a serviço do letramento, ou seja, somente faz sentido que se estude e se aprenda se for para melhorar a comunicação. Portanto, é interessante construir com os alunos conceitos que percebamos não estarem internalizados nas suas produções textuais orais e escritas. Assim, ao refletirem o uso e perceberem outra - e talvez melhor – possibilidade de enunciação, eles estarão ampliando e modificando conceitos, nem sempre claros ou presentes em suas gramáticas internas.